2 de Novembro de 2012

EM DEFESA DO VINHO ALVARINHO (DOC)!

Manuel Fernandes, Vereador da Câmara Municipal de Melgaço fez publicar no Jornal "A Voz de Melgaço" do corrente mês o artigo que se segue.

Há dias, ao ler o Jornal de Noticias, do passado dia 9 de Outubro, fui surpreendido com uma afirmação, relativa ao vinho alvarinho, atribuída a Anselmo Mendes e, até hoje, não desmentida. Nessa circunstância, Anselmo Mendes afirmou que " Há cópias que podem ser tão boas como os originais". A minha surpresa inicial passou a estupefacção e incredulidade. Na verdade, não queria acreditar no que lia. É que à afirmação de Anselmo Mendes contrapunha-se outra afirmação de um outro enólogo, Luís Soares Duarte, dizendo que "A casta (alvarinho) dá-se bastante bem noutro território", tudo isto inserido numa caixa jornalística "Douro versus Alvarinho".

Habituei-me e comigo muitos Melgacenses e não só (produtores e apreciadores do alvarinho) o olhar para o vinho alvarinho como único, singular, um vinho de elevadíssima qualidade e, também, para a Sub-Região Monção e Melgaço como o território onde o vinho alvarinho se revela e atinge o máximo das suas potencialidades. As características do microclima da Sub-Região reúnem as condições óptimas para a produção do Vinho Alvarinho, produto único no mundo.

Continuo a pensar de igual modo, pelo que é neste o contexto que revelo a minha estupefacção e incredulidade por ver um dos nossos muitos embaixadores do vinho alvarinho, que ao longo de muitos anos tem contribuído (e bem!) para a promoção e afirmação do vinho alvarinho, levando o nome de Melgaço a todo Portugal e ao Mundo, admitir de forma tão desprendida que o nosso vinho alvarinho possa não ser o melhor ou que a Sub-Região de Monção e Melgaço não seja a região, por excelência, do vinho alvarinho.

São estas afirmações, e outras de igual valor, que têm levado a que a Comissão de Viticultura dos Vinhos Verdes a querer renascer, de quando em vez, a intenção de alargar a produção e vinificação do vinho alvarinho (Denominação de Origem Controlada - DOC), neste momento atribuída apenas à Sub-Região Monção e Melgaço, a toda a região dos vinhos verdes. Se tal viesse acontecer – o que não se aceita nem admite - seria um rude golpe para os interesses e investimentos dos vitivinicultores monçanenses e melgacenses e, porventura, o inicio do fim do "cluster" do vinho alvarinho na Sub-Região Monção e Melgaço.

Não obstante, o plantio da casta alvarinho ser livre em Portugal, não podemos esquecer o papel dos muitos e muitos vitivinicultores monçanenses e melgacenses que deram a conhecer o alvarinho a Portugal e ao Mundo. Por isso, na forma de homenagem a todos os viticultores, reconheçamos a importância do trabalho e esforço, por eles, desenvolvido na defesa do vinho alvarinho, devendo estar a alerta e preparados para os ataques que lhe são dirigidos, seja através de afirmações, de intenções mais ou menos veladas, de acções directas ou encapotadas ou da concorrência de grandes grupos económicos, sobretudo, os que actuam no sector vitivinícola.

Temos que tomar consciência que somos muito pequenos e que só a nossa união nos poderá tornar fortes na afirmação dos nossos interesses e na defesa do vinho alvarinho.

É com este objectivo que ouso lançar aqui três desafios: O primeiro, dirijo-o à Associação de Produtores do Alvarinho (APA) para que esta assuma outro dinamismo e vigor e se torne mobilizadora de todos os viticultores na defesa do alvarinho. Mais do que nunca é necessário que a APA seja a associação representativa de todos os produtores do alvarinho da Sub- Região Monção e Melgaço. As divisões estéreis e inconsequentes só fragilizam os produtores do alvarinho e, consequentemente, a Sub-Região.

O segundo desafio, dirijo-o a todos os vitivinicultores no sentido de criarem uma estrutura empresarial com o objectivo de realizar a promoção e a comercialização nacional e internacional do vinho alvarinho produzido na nossa Sub-Região. Ganha, indiscutivelmente, a batalha da qualidade do vinho alvarinho, será necessário promovê-lo nacional e internacionalmente. A ferocidade da concorrência a todos os níveis, não se compadece com acções individuais na promoção e na comercialização do alvarinho que cada um produz, seja pequeno ou grande produtor. É tempo, portanto, dos vitivinicultores ultrapassarem pequenos egoísmos ou vaidades pessoais e sentarem-se à mesma mesa a discutir esta questão.

O terceiro desafio, dirijo-o aos municípios de Monção e Melgaço e aos respectivos órgãos, à Associação de Produtores de Alvarinho e a todos os vitivinicultores com o objectivo de se criar uma marca comercial para a Sub-Região. Temos que estar conscientes que quando promovemos o nosso vinho alvarinho (DOC), também, estamos a promover todo o vinho alvarinho, quer seja produzido na nossa Sub-Região, quer o produzido fora dela – o vinho regional alvarinho. Daí a importância e premência de associarmos uma marca comercial ao vinho alvarinho da nossa Sub-Região, um pouco à imagem do que já acontece com a marca "Rias Baixas" (alvarinho), na Galiza.

É, portanto, tempo de agir. É tempo de pormos os pés ao caminho, centrarmos a nossa atenção no essencial e no que tem que ser feito, de forma a anteciparmo-nos a acontecimentos e situações que, todos sabemos, estão aí à porta.

Se nada fizermos, iremos reagir a situações desfavoráveis e aí, já partiremos derrotados pelas circunstâncias. Mais uma vez, lamentavelmente e como em muitas outras vezes, chegaríamos tarde à história.

É missão de todos evitar que tal aconteça. Cabe-nos a todos prevenir o futuro...por nós e pelos nossos filhos.

Manuel Fernandes

Vereador da CM Melgaço